terça-feira, 22 de novembro de 2011

Brasil testa vacina contra o câncer


SÃO PAULO - O protozoário Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, pode ser a nova arma da medicina contra o câncer. Pesquisadores brasileiros conseguiram criar uma vacina contra a doença usando uma variação do micro-organismo incapaz de desencadear a patologia (não-patogênico). Os resultados da pesquisa acabam de ser publicados pela revista científica americana PNAS, uma das mais importantes do mundo. 
Departamento de vacinas da Fiocruz, instituição ligada ao novo estudo   - Fabio Motta/AE
Fabio Motta/AE
Departamento de vacinas da Fiocruz, instituição ligada ao novo estudo
No artigo, os brasileiros relatam sucesso em experimentos com camundongos para prevenção e tratamento de melanoma, um tipo de câncer de pele. Além disso, os cientistas testaram o Trypanosoma em células humanas in vitro e comprovaram sua capacidade de provocar respostas imunológicas adequadas contra alguns tipos de tumor.
O estudo reuniu cientistas do Centro de Pesquisas René Rachou (CPQRR-Fiocruz), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Instituto Ludwig, em Nova York. Para analisar a ação do protozoário, os brasileiros realizaram uma modificação genética, criando um microrganismo capaz de produzir a mesma molécula fabricada por células tumorais: o antígeno NY-ESO-1.
O mecanismo que explica a ação do Trypanosoma é o seguinte: quando o organismo inicia o combate ao protozoário, entra em contato com a molécula tumoral, que passa a ser vista pelo sistema imune como indicador de células com o protozoário. Induzidas, as defesas do organismo passam a destruir as células com a molécula tumoral como se lutassem apenas contra o Trypanosoma.
Como o protozoário da doença de Chagas tende a permanecer de forma crônica no corpo, o agente transgênico poderia garantir um estado de alerta contínuo contra o câncer, que duraria anos.
“É um avanço importante”, analisa o oncologista do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), Gilberto de Castro Junior. “É uma grata surpresa ver o grupo de imunologia da UFMG, já muito tradicional, publicar em uma revista tão importante como a PNAS”, completa. Segundo ele, o aspecto mais inovador da pesquisa foi usar um parasita que causa uma doença em humanos para infectar células e induzir a resposta contra os tumores.
Coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Vacinas e um dos autores do trabalho, Ricardo Gazzinelli afirma que, antes de iniciar testes clínicos em humanos, será preciso vencer a resistência em usar um parasita transgênico no combate à doença. Agora, o grupo iniciará testes em modelos mais próximos de humanos. “Testaremos em modelos de melanoma em cachorros”, diz.
Atualmente, segundo Castro Junior, a única vacina em estágio avançado de pesquisa é uma opção contra o câncer de próstata, cujos resultados foram publicados neste ano pela revista científica Nature Medicine. O objetivo dos pesquisadores, afirma, é chegar a uma vacina “que previna contra todos os tipos de câncer.”
Tumores mais letais são menos investigados
A vacina contra o melanoma é a mais pesquisada no mundo na área oncológica, com 40 testes clínicos em andamento, segundo estudo publicado na quinta-feira passada pela Universidade de Michigan, nos EUA. Os autores do artigo criticam o critério usado para definir as prioridades ligadas às vacinas anticâncer: ao escolherem o tipo de tumor, os laboratórios usam como guia o número anual de casos, e não a taxa de mortes que provocam. Entre os tipos mais letais, inclusive no Brasil, estão os tumores de pulmão, mama e estômago.
Segundo os pesquisadores, a estratégia pode limitar os benefícios aos pacientes: ter uma vacina contra um câncer curável é menos vantajoso do que obter soluções para tumores mais letais. Matthew Davis, da Universidade de Michigan, diz que hoje existem cerca de 230 ensaios clínicos para vacinas, contra 13 tipos de câncer. “A falta de conexão entre o desenvolvimento de vacinas e as mortes por câncer significa que essas vacinas podem não servir da melhor forma às necessidades dos pacientes de amanhã.”
Estadão

Pesquisa britânica mostra expectativa de vida em diferentes tipos de câncer


Médias de sobrevivência de pacientes com câncer na Inglaterra e País de Gales aumentaram de um ano para quase seis anos nas últimas quatro décadas, segundo um estudo.
Média de sobrevivência de pacientes com câncer na Inglaterra e País de Gales foi de 1 para 6 anos - Reprodução/BBC
Reprodução/BBC
Média de sobrevivência de pacientes com câncer na Inglaterra e País de Gales foi de 1 para 6 anos
No entanto, a pesquisa, feita pela entidade beneficente Macmillan Cancer Support constatou uma "lamentável" falta de progresso em alguns tipos de câncer, como os de pulmão e estômago.
A ONG diz que os dados vão ajudar pacientes a encontrar resposta para a questão: "Quanto tempo eu tenho?"
Quatro Décadas
Com base em pesquisas feitas pela London School of Hygiene and Tropical Medicine, a equipe da Macmillan analisou índices de sobrevivência e tempo de sobrevida de pacientes com 20 tipos de câncer durante quatro décadas.
O estudo usou como referência para sobrevivência marcos como um, cinco ou dez anos após o diagnóstico.
Como tempo médio de sobrevivência foi considerado o tempo levado até a morte de metade dos diagnosticados.
A diretora executiva da Macmillan, Ciaran Devane, disse que o estudo representa um grande avanço. "Tempos médios de sobrevivência dão uma ideia nova e precisa de quanto tempo as pessoas podem esperar viver com cânceres diferentes".
Resultados
Os números mostram uma melhoria na média total de sobrevivência, de um ano em pacientes diagnosticados em 1971-1972 a quase seis anos para pacientes diagnosticados 40 anos mais tarde.
Seis dos cânceres estudados hoje apresentam médias de sobrevivência de mais de dez anos. A maior melhoria foi verificada em cânceres do cólon: o tempo de sobrevida aumentou 17 vezes.
Em linfomas não-Hodgkin a sobrevida aumentou dez vezes.
A inglesa Dena Hutchings, da cidade de Sheffield, foi diagnosticada com um linfoma há cinco anos. A quimioterapia acelerou sua entrada na menopausa, mas ainda assim ela se considera afortunada.
"Poderia ter sido um caso pior de câncer mas, felizmente para mim, era um linfoma. É um dos cânceres mais fáceis de tratar e curar", disse.
Os resultados do estudo mostram, no entanto, que para nove tipos de câncer, a média de sobrevida ainda é de três anos ou menos.
Nas últimas quatro décadas, houve pouca melhoria na sobrevida de pacientes com canceres do pulmão, cérebro e pâncreas.
O inglês Adrian Antwis tem 40 anos e também é de Sheffield, no norte da Inglaterra. No primeiro semestre desse ano, foi diagnosticado com câncer de pulmão.
O médico disse a Antwis que ele tem apenas alguns meses de vida. Ele espera que as imensas variações nos índices de sobrevida reveladas pelo estudo ajam como um incentivo a pesquisas para tratamentos efetivos para cânceres como o dele.
"Eu enfrentaria meses e meses de tratamento se soubesse que havia uma chance. Mas não há tratamento, então é algo que você tem de aceitar".
Desafio
A Macmillan Cancer Support diz que o fato de pacientes com câncer estarem sobrevivendo mais tempo é positivo, mas ressalta que muitos estão sofrendo de problemas crônicos de saúde, em grande parte, associados ao tratamento.
Entre os problemas estão fadiga, infertilidade e danos aos pulmões e coração. Alguns sobreviventes de câncer também precisam de apoio psicológico.
Estadão

sábado, 12 de novembro de 2011

Tratar pneumonia em casa pode ser melhor do quem em hospital

Crianças com pneumonia grave tratadas em casa se recuperam melhor do que aquelas encaminhadas a um hospital, revela um novo estudo publicado no Lancet.

Pesquisas anteriores já haviam demonstrado que a administração oral do remédio funcionava tão bem como a injetável - mas, nesse caso, a investigação havia sido feita em hospitais e com médicos.
No novo estudo, feito no Paquistão, pesquisadores compararam a evolução de 1857 crianças acompanhadas em casa por pessoas da comunidade treinadas para identificar sintomas da doença, que receberam cinco dias de antibiótico oral. O grupo controle incluiu 1354 pacientes tratados em hospitais, submetidos à terapia padrão: uma dose do remédio antes do encaminhamento a um centro médico para receber drogas por via intravenosa.
A terapia em casa reduziu atrasos e falhas no tratamento. Apenas 9% dessas crianças tinham febre e outros sintomas após seis e 14 dias de tratamento, contra 18% das internadas em hospitais. Sabe-se que, em muitos casos, as famílias precisam viajar para chegar aos serviços de saúde, o que envolve atrasos, custos e dias de trabalho perdidos, dificultando a adesão.
Os membros da comunidade que receberam treinamento básico sobre como reconhecer sinais e sintomas e avaliar o progresso do tratamento diagnosticaram corretamente 94% dos casos.
Para os autores, os resultados são uma prova de que trabalhadores treinados podem identificar e administrar a doença na comunidade.
A descoberta pode ajudar a salvar milhares de crianças. A pneumonia é uma das grandes causas de morte infantil no mundo, matando 1,4 milhão de crianças com menos de cinco anos a cada ano, 99% delas em países em desenvolvimento. 
Estadão

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

EUA tentam conter venda de pirulitos infectados com catapora via internet


Autoridades do Estado americano do Tennessee ameaçaram tomar medidas legais contra pais que comprarem ou venderam pela internet pirulitos infectados com catapora para transmitir, voluntariamente, a doença a seus filhos.
Foi provado que é possível comprar, na internet, pirulitos lambidos por crianças enfermas - Reprodução/BBC
Reprodução/BBC
Foi provado que é possível comprar, na internet, pirulitos lambidos por crianças enfermas
O procurador-geral do Tennessee, Jerry Martin, disse que a prática de enviar vírus e bactérias pelo correio é crime federal nos mesmos moldes que o envio de substâncias usadas em ataques biológicos, como antraz.
O procurador resolveu falar duro depois que emissoras de TV locais divulgaram reportagens mostrando que grupos de pais estão se reunindo em "festas da catapora" cujo objetivo é fazer com que crianças infectadas com a doença a transmitam para outras crianças saudáveis.
Muitos pais não acreditam nos benefícios da vacina, e preferem que seus filhos sejam contaminados com a doença ainda novos, quando seus efeitos são mais amenos. Uma vez contraída a catapora, o indivíduo cria imunidade para o resto da vida.
Grupos na rede social Facebook, como o "Find a Pox Party Near You" (ou "encontre uma festa da catapora perto de você"), servem de ponto de encontro para que os adultos combinem os eventos.
E quando por razões logísticas os eventos não podem ser realizados, o canal WSMV, de Nashville, mostrou que é possível comprar, na internet, pirulitos lambidos por crianças enfermas, roupas usadas por elas com a doença e inclusive cotonetes contaminados.
Catapora via internet
A reportagem da emissora conversou com uma mãe de Nashville que vendia por US$ 50 na internet pirulitos lambidos por seus filhos e contaminados com catapora.
"(As crianças) não conseguem mais pegar catapora do jeito normal, simplesmente pegar e ter imunidade para o resto da vida", explicou Wendy Werkit à reportagem.
Entretanto, as autoridades de saúde alertaram para os perigos desta prática. Um médico do Departamento de Saúde do Tennessee disse que, ao expor seus filhos aos fluidos de outra criança, os pais podem estar contaminando-os com uma série de outras doenças desconhecidas.
Ao tomar conhecimento desses casos, o procurador Jerry Martin pediu à WSMV que lhe fizesse uma entrevista sobre o tema.
"A mensagem precisa ser clara para todos os indivíduos que tentem adotar esse comportamento", disse o procurador. "O governo federal e o Departamento de Justiça não vêm com bons olhos a violação de qualquer lei federal, e certamente das leis que cuidam da segurança e a saúde pública", ameaçou.
"Se você tentar expor alguém a um vírus ou doença infecciosa, e usar o correio americano ou o comércio interestadual para enviar material para outra pessoa, você estará se expondo a um processo na Justiça federal."
Estadão

Governo vai pesquisar comportamento gay


Uma pesquisa que será realizada pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo pretende mapear o comportamento gay para aperfeiçoar programas de prevenção à aids. Cerca de mil questionários serão aplicados ao longo dos próximos três meses do projeto na região central da cidade. Além dos questionários serão oferecidos testes de HIV.

Batizado de projeto SampaCentro, o estudo, realizado em parceria com a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, tem como objetivo conhecer melhor os hábitos de gays, homens que fazem sexo com homens e travestis no centro de São Paulo e sobre práticas sexuais e prevenção do HIV e possibilitar o aprimoramento das ações de prevenção à Aids. 

Dados epidemiológicos do programa estadual de DST/Aids, da Secretaria, apontam que a prevalência de HIV/Aids entre a população geral é de 0,6%, enquanto em gays e outros homens que fazem sexo com homens chega a 10,5%.

A pesquisa, coordenada pelo Centro de Referência em DST/Aids, da Secretaria, será realizada nos bairros da República e Consolação. Serão abordados frequentadores de bares, boates, academias, cinemas e outros espaços da região central. Quem aceitar colaborar voluntariamente com a pesquisa irá responder um questionário objetivo de caráter sócio-comportamental e será convidado a realizar um teste anti-HIV. 

O teste de HIV será realizado em um posto itinerante do projeto, que pode funcionar em uma van ou dentro dos estabelecimentos onde os pesquisadores estiverem atuando. Os dias, horários, locais e até as pessoas que serão abordadas serão escolhidos por sorteio para garantir a representatividade do trabalho. 

Para quem tiver dúvidas, é possível acessar o site do projeto (www.projetosampacentro.com.br) para consultar mais detalhes da pesquisa e até conversar com os entrevistadores, se considerar necessário.
Estadão

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

USP se compromete a não punir quem ocupou prédio da reitoria


SÃO PAULO - A USP se comprometeu a não punir os estudantes e servidores que ocuparam o prédio da reitoria. Também prometeu discutir com a comunidade acadêmica os termos do convênio que reforçou a presença da Polícia Militar no câmpus da zona oeste, assinado em setembro. A proposta, porém, depende dos manifestantes. Eles precisam entregar o edifício-sede "em ordem" até as 23h desta segunda-feira, informou a Assessoria de Imprensa da instituição.
A proposta de acordo foi formalizada na tarde desta segunda-feira durante encontro de representantes da reitoria com alunos e funcionários. O grupo que ocupa o prédio da administração central desde a madrugada da última quarta-feira vai discutir as condições da USP durante assembleia-geral marcada para as 20h.
A reunião, com cerca de três horas de duração, ocorreu no Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).
A reitoria afirma que, após a desocupação do prédio, vai formar dois grupos de trabalho mistos, compostos por representantes da administração, dos estudantes e dos funcionários, visando a "aprimorar" o convênio entre USP e PM e a examinar e "buscar promover a revisão conciliatória" de processos administrativos e disciplinares em curso contra alunos e servidores.
No sábado, durante a tentativa de negociação entre reitoria e manifestantes mediada pela Justiça, a universidade se comprometeu a não punir quem participou da audiência.
Os manifestantes pedem a saída da polícia do câmpus e a revogação do convênio entre USP e PM. Também pedem a retirada de processos contra alunos, funcionários e professores.
Reintegração de posse
O prazo dado pela juíza Simone Gomes Rodrigues Cassoretti, a 9.ª Vara da Fazenda Pública, para a saída pacífica da reitoria se esgota às 23h desta segunda-feira. A partir desse horário está permitido o uso de força policial.
No entanto, o comandante-geral da PM, coronel Álvaro Batista Camilo, disse na tarde desta segunda-feira, enquanto ocorria a reunião na FFLCH, que o prazo estabelecido pela Justiça não vale mais. Segundo ele, a USP precisa notificar a Justiça sobre o possível fracasso das negociações, para que a juíza Simone Gomes estabeleça um novo horário-limite para a saída dos manifestantes do prédio.
Agora a universidade espera o posicionamento dos estudantes e funcionários na assembleia.
Estadão

sábado, 5 de novembro de 2011

Radioterapia chega tarde para 84% dos pacientes SUS


Apenas 15,9% dos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) com indicação para radioterapia conseguem iniciar o tratamento no prazo que o próprio Ministério da Saúde considera adequado, de até 30 dias após o diagnóstico. A média de espera é de quase quatro meses, ou 113,4 dias. E há casos, como o do corretor de imóveis Paulo Prado, de 65 anos, em que o tempo é bem maior: foram nove meses entre a descoberta da doença e o início do tratamento. Ele tem câncer de laringe, assim como o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Os dados são de um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) feito a partir de uma auditoria sobre a Política Nacional de Atenção Oncológica, divulgado nesta semana. O documento indica ainda que, enquanto alguns enfrentam demora para começar a se tratar, há uma parcela que nem sequer consegue acesso à radioterapia: só no Estado de São Paulo, no ano passado, 7.464 pacientes ficaram desassistidos, cerca de 19% do total. Isso significa que um a cada cinco paulistas que precisavam do procedimento não foi atendido.
“Não existe centro de radioterapia do SUS que não tenha fila”, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) Carlos Manoel Mendonça de Araújo, médico do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Para ele, a radioterapia é o gargalo do tratamento de câncer no Brasil. O procedimento pode ser usado como estratégia contra quase todos os tipos de tumor. E, segundo a SBRT, 60% dos pacientes com câncer precisarão da técnica.
Araújo teme que a situação da radioterapia se agrave ainda mais porque há a previsão de descredenciamento no País de 18 centros que aplicam a técnica, conforme indica a Portaria nº 62, de março de 2009. “O governo entende que o paciente de radioterapia deve ser tratado em serviços dentro de hospitais, para que haja recursos caso precise de outros atendimentos. Concordamos. Mas, se esses centros forem desabilitados, outros 20 mil pacientes deixarão de ter a radioterapia.”
O relatório do TCU indica que 15 serviços isolados de radioterapia do País têm prazo para funcionar somente até o próximo mês, com a possibilidade de extinção do serviço. Procurado pelo JT, o Ministério da Saúde afirmou que os dados do TCU serão analisados pela equipe técnica da pasta.
Esperar até quatro meses pelo procedimento pode fazer com que o paciente se torne crônico, “recebendo quimioterapia e não radioterapia, onerando o governo e sem ter chance de cura”, diz Araújo. “Muitos dos pacientes que poderiam ter recebido a rádio logo no começo não receberam. Com isso, acabam tendo de receber a químio por muito tempo”, completa. Na pior das hipóteses, o paciente acaba não resistindo até a data marcada.
O rádio-oncologista do Hospital A.C.Camargo, Ricardo César Fogaroli, destaca que os tipos de câncer que mais necessitam da radioterapia são também alguns dos mais comuns no País, como tumores de mama, próstata e pulmão. Também estão na lista tumores de colo uterino e neoplasias de cabeça e pescoço.
Além do abalo emocional provocado pelo diagnóstico do câncer, o paciente que recebe a notícia de que só poderá se tratar dali a quatro meses vê a situação como uma sentença de morte. A observação é da psico-oncologista Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia. “O paciente tem a informação de que quanto mais rápido se tratar, melhor será. Esperar esse tempo é péssimo emocionalmente. Há piora da qualidade de vida, risco de deprimir e não aderir ao tratamento.”
Segundo Luciana, o relatório do TCU reflete tudo o que é vivenciado pelos pacientes. “Tudo aquilo que vemos na prática e que discutimos está lá”, garante.
Ministério pede três meses para analisar relatório
Questionado sobre o possível descredenciamento de centros especializados em radioterapia no País, o que agravaria ainda mais a situação do tratamento oncológico, como indica o relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), o Ministério da Saúde respondeu ao Jornal da Tarde que a equipe técnica do órgão vai analisar o caso em um prazo de até 90 dias.
De acordo com o Ministério, serão criados, até 2014, mais 32 centros de radioterapia, especialmente no interior do Brasil. “A medida integra a Rede Câncer, uma das apostas do Ministério da Saúde para integrar e agilizar o atendimento aos usuários do SUS”, afirmou o órgão, por meio de nota.
Mas, de acordo com os dados do documento do TCU, hoje, para suprir as necessidades dos pacientes brasileiros, seriam necessárias mais 135 unidades habilitadas para o procedimento de radioterapia, além das 264 que já existiam em 2010. E, mesmo se contabilizados os serviços privados não credenciados pelo SUS, aponta o relatório, ainda existiria um déficit de 57 serviços desse tipo no País. A pasta respondeu que, atualmente, “o SUS dispõe de 276 centros que realizam o atendimento especializado em oncologia.”
O Ministério da Saúde também informou que, nos últimos 12 anos, os gastos federais com assistência oncológica no País passaram de R$ 470,5 milhões (em 1999) para cerca de R$ 1,8 bilhão (em 2010). A incidência da doença no País, contudo, também cresceu consideravelmente na última década. Ainda de acordo com o órgão, entre 2010 e 2011, houve o aumento de valor para 66 procedimentos de radioterapia e de quimioterapia – entre os 155 existentes.
Depoimento
PAULO MONTEIRO PRADO, DIAGNOSTICADO COM CÂNCER EM NOVEMBRO DE 2010
Em novembro de 2010, o corretor de imóveis Paulo Monteiro Prado, de 65 anos, começou a sentir os primeiros sintomas do que mais tarde seria diagnosticado como câncer na laringe. Mas só começou a se tratar com radioterapia nove meses depois de saber da doença.
Levado ao hospital por uma rouquidão persistente, fez exames na rede particular, entre endoscopias e biópsia, até chegar ao diagnóstico. Morador de Mogi das Cruzes, ele foi encaminhado para um hospital público da cidade, onde deveria ter iniciado o tratamento com radioterapia. Foi então, conta, que recebeu a notícia de que o hospital tinha o equipamento, mas não um médico especializado para aplicar a técnica. Prado voltou a seu médico particular, que o encaminhou ao Hospital A.C.Camargo, na capital.
Depois de novos exames, iniciou seu tratamento com quimioterapia e radioterapia em agosto. “O tratamento lá na minha cidade não existe. Se tivesse de ser atendido lá, estaria morrendo”, diz, lamentando o fato de ter perdido vários meses de tratamento. Ele conta que, desde que foi diagnosticado, passou por um grande estresse em busca do tratamento.
“Precisa ter muita cabeça para suportar. Quando comecei a ser tratado, já estava muito estressado porque não consegui começar antes. A gente acaba brigando com todo mundo”, diz. Ele deve terminar o tratamento em dezembro. Até lá, precisa se deslocar algumas vezes por semana de Mogi para São Paulo. Mas, agora, está se tranquilizando. “Estou muito contente.”
Mariana Lenharo

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Casos de aids em menores de 5 anos crescem no Norte e Nordeste


Brasília - O número de casos de aids em crianças de até 5 anos de idade tem caído no Brasil desde 2000. A queda não ocorreu de maneira igual em todas as partes do país. Enquanto a taxa de incidência da doença entre as crianças reduziu no Sudeste na última década, cresceu no Norte e no Nordeste. É o que mostra o Saúde Brasil, publicação anual do Ministério da Saúde que traz dados sobre a saúde do brasileiro.

No Brasil, a prevalência da aids nos menores de 5 anos passou de 5,4 casos para três casos por 100 mil habitantes, de 2000 para 2009. Na Região Sudeste, a redução foi de 8,2 para 2,8 casos no mesmo período. No Norte, o movimento foi inverso ao nacional, subindo de 1,9 para quatro casos por grupo de 100 mil habitante. No Nordeste, a taxa cresceu de 1,4 para 2,3.

Nessa faixa etária, a maioria dos casos de contaminação ocorre de mãe para filho durante a gravidez _ a chamada transmissão vertical. O próprio Ministério da Saúde conclui, na publicação, que a oferta de pré-natal de qualidade, com o teste de HIV nas gestantes, evitaria muitos casos infantis das doenças. “Como o diagnóstico da infecção pelo HIV, no início da gestação, possibilita o efetivo controle da infecção materna e a consequente diminuição da transmissão vertical, o teste anti-HIV deve ser sempre oferecido, com aconselhamento pré e pós-teste, para todas as gestantes, na primeira consulta do pré-natal, independentemente de sua aparente situação de risco”, diz o documento.

A meta do Brasil é reduzir a transmissão vertical de 6,8%, taxa verificada em 2004, para menos de 2% até 2015. Em mais da metade dos casos, a infecção acontece durante o parto. De 2000 a 2009, foram identificadas 54.218 gestantes soropositivas no país, sendo que 75,6% viviam no Sul e Sudeste.

Estadão

Pesquisa descobre por que sarampo se espalha tão rapidamente


Pesquisadores da Clinica Mayo, nos Estados unidos, descobriram por que o sarampo, talvez doença viral mais contagiosa do mundo, se espalha tão rapidamente: ele infecta uma proteína presente em células da traqueia, e depois vai para a garganta do hospedeiro. A tosse da vítima despeja milhares de partículas prontas para contaminar outra pessoa. O achado, publicado no periódico científico Nature nesta quarta-feira, 2, também abre caminho para novas terapias contra tumores, usando vírus para combater o câncer.

"O vírus do sarampo desenvolveu uma estratégia diabólica", explica Roberto Cattaneo, líder do trabalho. "Primeiro ele ataca as células do sistema imunológico que patrulham os pulmões para entrar no hospedeiro. Depois viaja dentro de outras células imunológicas pelo corpo todo. As células infectadas entregam essa carga especificamente a células que expressam a proteína nectin-4, o novo receptor, que estão localizadas na traqueia. Assim, o vírus emerge do hospedeiro exatamente onde o contágio é facilitado."

Os autores também comemoram outro aspecto da pesquisa: a proteína nectin-4 é um marcador de vários tipos de tumores, como o de ovário, mama e pulmão. Já estão em andamento pesquisas que utilizam o vírus do sarampo para atacar câncer.

Como o sarampo ativa alvos dessa proteína, uma terapia baseada nesse vírus poderá ser bem sucedida em pacientes com tumores que expressam a proteína nectin-4. Muitos pesquisadores acreditam que vírus modificados podem ser uma alternativa menos tóxica à quimioterapia e radioterapia.

Apesar do desenvolvimento da vacina, o vírus continua a afetar mais de 10 milhões de crianças a cada ano, matando cerca de 120 mil no mundo inteiro. Nos últimos anos, o contágio tem aumentado nas pessoas não vacinadas, e o sarampo continua sendo um problema de saúde pública nos Estados Unidos.

Estadão