Ana Carla Moreira acredita que terá mais amigos se emagrecer. Ingrid A.C.M. tem certeza de que ficará muito mais bonita. Além da idade, 13 anos, e a vontade de perder peso, as duas compartilham a mesma visão sobre o emagrecimento: fonte de felicidade e de ganhos sociais. Saúde, para elas, é secundário.
A opinião das meninas é consenso entre as adolescentes obesas atendidas pelo Programa de Atividades para o Paciente Obeso (Papo), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que foram entrevistadas para uma dissertação de mestrado defendida na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP).
O estudo ouviu 32 meninas obesas, com idade entre 13 e 16 anos, e concluiu: para elas, ser magra é sinônimo de aceitação e sucesso. “No imaginário delas, emagrecer trará benefícios sociais e irá melhorar a autoestima”, confirma Dressiane Zanardi Pereira, mestre em Saúde Pública e autora do trabalho. “Acho que tudo é melhor para os magros”, resume a estudante Ana Carla, que pesa 66 quilos e mede 1,60m.
No caso da estudante Ingrid, que preferiu não dizer seu sobrenome, foram os níveis altos de colesterol que a obrigaram a mudar os hábitos alimentares e físicos. Mas ela, com 62 quilos e 1,53 m, não esconde a real motivação para emagrecer foi outra. “Estou ficando mais vaidosa e fiquei incomodada com o meu peso. Ainda não gosto de usar blusinha agarrada ou que mostre a barriga”, conta.
Para os especialistas, jovens que precisam perder peso devem receber uma abordagem diferente daquela usada para o adulto. “Não adianta o médico falar com o adolescente sobre taxa de colesterol e pressão. Para ele entender a necessidade de emagrecer é preciso trabalhar a beleza, a autoestima”, diz Sandra Villares, coordenadora do Ambulatório de Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas (HC).
Outra justificativa para os jovens não associarem a redução de peso à saúde é o imediatismo, segundo a endocrinologista Maria Edna de Melo, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso). “Nessa idade, a morte e doenças estão supostamente mais distantes. A preocupação é com a estética, aceitação do grupo. É uma preocupação mais imediata”, explica.
Todas as adolescentes que participaram do estudo da USP têm “noção dos efeitos do emagrecimento na saúde”, afirma Dressiane. Mesmo assim, as meninas afirmaram que não tinham bons hábitos alimentares em casa e atribuíram a culpa aos pais ou a fatores externos. “Disseram que comiam por emoções negativas. Descontavam a tristeza na comida. E também comiam mal pela falta de apoio dos pais”, relata.
Para os especialistas a situação é difícil de reverter sem apoio da família. “Primeiro, os pais devem enxergar a obesidade como uma doença”, propõe Sandra. “E a estrutura familiar deve proporcionar uma mudança na alimentação do jovem por meio de exemplos”, completa Maria Edna.
FELIPE ODA
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