Todas as manicures da cidade de São Paulo podem ser vacinadas contra a hepatite B gratuitamente. Mas, apesar do direito que a categoria tem, 74% delas não estão protegidas contra a doença. Dessas, 8% têm o vírus, o dobro da incidência constatada na população geral entre 18 e 60 anos. Além disso, 59% das profissionais não sabem do direito à imunização.
A descoberta faz parte de uma pesquisa de doutorado desenvolvida no Instituto Emílio Ribas pela enfermeira Andréia Cristine Deneluz Schunck de Oliveira. “Quando fiz o levantamento, percebi que as manicures não têm noção do risco a que estão se expondo e o risco a que estão expondo as clientes”, diz Andréia.
No caso da hepatite B, o contágio é comumente associado ao sexo desprotegido, mas ele também pode ocorrer por meio de sangue – sobretudo porque essa variedade de vírus é mais resistente do que o tipo C, por exemplo, e pode permanecer vivo em objetos, como lixas e polidores, por até sete dias. Além disso, o risco é potencializado por um hábito cultural da brasileira: retirar a cutícula antes de pintar as unhas, o que favorece sangramentos.
Por seis meses, Andréia visitou 100 salões de beleza em vários bairros da cidade, metade deles localizados dentro de shoppings. Em cada salão, escolheu uma manicure, aplicou um extenso questionário e observou seu trabalho durante cerca de 10 horas.
As 100 entrevistadas foram submetidas a testes para verificar se tinham hepatite: 8 foram diagnosticadas com o tipo B e duas com hepatite C. Segundo os médicos, a eficácia do tratamento para essas doenças aumenta quanto mais cedo for feito o diagnóstico. Se não forem constatadas antes, podem evoluir para outras enfermidades potencialmente perigosas, como a cirrose hepática ou o câncer de fígado.
Andréia lembra que a vacina contra hepatite B tem 95% de eficiência quando tomadas as três doses. “O problema que é uma doença silenciosa e assintomática. E as pessoas vão muito pela aparência”, conta, lembrando ter ouvido das manicures: ‘minhas clientes são limpinhas, não tem risco de transmitirem alguma doença’.
A manicure Elisângela Soares, 31 anos, trabalha em um salão de beleza na zona norte da capital e já tomou a vacina contra hepatite B, mas mesmo assim capricha na prevenção. “Aqui limpamos todos os instrumentos com água e sabão e depois esterilizamos. Lixas e palitos são todos descartáveis”, diz.
Sua colega de trabalho, Maria Antônia da Silva, de 55 anos, não se lembra de ter tomado as doses. Ela conta que, em seus 25 anos de profissão, as medidas de higiene mudaram muito. “Antes, não se tinha conhecimento sobre a importância de se esterilizar os equipamentos como hoje temos”, lembra.
Outra conclusão da pesquisa foi a de que em nenhum estabelecimento a esterilização dos instrumentos havia sido feita da maneira correta: 54% dos salões usavam a estufa para esterilizar alicates, porém em temperatura e tempo inadequados. Outros 26% usavam de maneira errada a autoclave.
A pesquisadora também constatou que os salões não tinham pias adequadas para a higienização e que 74% das manicures não lavavam as mãos entre uma cliente e outra. Para Andréia, a desinformação se deve ao fato de que não é obrigatório ter um curso preparatório para exercer a função. Para oferecer mais informações às profissionais, ela lançou o manual Meu salão livre das hepatites, em parceria com o Ministério da Saúde.
MARIANA LENHARO
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