"Eu só escutava gritos. Ele gritava: "Eu vou matar, é melhor vocês não fugirem. Vou matar de qualquer jeito, não adianta correr"." O relato de Jade Ramos de Araújo, de 12 anos, só não traduz de forma mais fiel a tensão que viveu ontem do que a palma da mão que ela mostra, rabiscada.
Tasso da Silveira para se proteger do assassino, ela usou uma caneta para dar vazão ao medo. "Para me acalmar, fiquei desenhando na minha mão", contou Jade. Ela só saiu da sala onde se refugiou após ser localizada pelo irmão mais velho. "Eu só escutava gritos", contou a aluna da 6.ª série. "Agradeço aos policiais que salvaram a minha vida (porque) ele ia encurralar todo mundo lá em cima. Ele gritava: "Vira para a parede que eu vou te matar". E atirava. Tive muito medo de ele me matar."
A dramaticidade do relato foi comum ontem a tantos outros depoimentos de sobreviventes e testemunhas. O carteiro Hercilei Antunes, de 44 anos, mora bem na frente da escola e ficou em pânico quando ouviu os primeiros tiros. Logo pensou na filha, de 15 anos, e no sobrinho, estudantes do colégio.
"Eu ouvi os tiros e corri em direção à escola. Mas, cada vez que eu ouvia um disparo, eu parava, pois não sabia de onde vinham as balas ou quem estava atirando. A polícia chegou rápido e, após a morte do assassino, corri até a sala da minha filha. Vi professores e alunos deitados no chão, apavorados. Só lembro de pegar os dois pelo braço e descer as escadas suando", contou.
Vizinha da escola, a dona de casa Lúcia Regina da Silva, de 40 anos, teve de esperar para ter certeza se o filho Marcus Vinícius, de 10, estava vivo. Ela elogiou a ação dos professores. "Vi meu filho só depois que tudo estava resolvido. Ele contou que as professoras trancaram a porta da sala e colocaram cadeiras para travar a maçaneta. Os alunos ficaram deitados no chão em silêncio, enquanto ouviam os disparos", relatou Lúcia.
Entre os estudantes, Larissa Gotardo, de 14 anos, não imaginava que a decisão de faltar à aula ontem seria boa. Aluna da 7.ª série, ela foi à escola assim que soube da tragédia. "Vim para saber dos meus amigos", disse. "A única coisa que eles contaram é que as professoras salvaram as vidas deles, pois trancaram as portas das salas até que o tiroteio terminasse."
Felipe Werneck, Pedro Dantas e Alfredo Junqueira - O Estado de S.Paulo
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