sábado, 9 de abril de 2011

Enquanto brasileiros engordam, empresas faturam mais


Uma longa reportagem publicada na revista do jornal britânico “Financial Times” mostra que o apetite das classes C, D e E no Brasil está servindo para engordar os lucros de multinacionais e também o corpo dos próprios consumidores. Um grupo de médicos e nutricionistas denunciam práticas que eles consideram estímulos à obesidade.
Ao mesmo tempo em que a base da pirâmide social aumenta o ritmo de consumo, a obesidade no País também cresce. Em 1990, um em cada cinco brasileiros homens acima de 20 anos estava acima do peso ideal (calculado pelo índice de massa corpórea, um indicador que relaciona peso e altura). Hoje, metade deles está além do peso. Entre as mulheres, a evolução foi semelhante, de 17% para 48%. Os dados são de uma pesquisa do médico Carlos Monteiro, da Universidade de São Paulo.
A reportagem usa a Nestlé como exemplo de empresa que sabe lucrar com o crescimento (econômico e físico) da classe baixa. As vendas da empresa na base da pirâmide social correspondem a R$ 1,3 bilhão. Ainda é uma pequena parte do total que a companhia fatura no Brasil (R$ 16 bilhões). Mas as vendas para as classes baixas são as que mais crescem. Subiram 27% em 2009, o dobro da taxa de crescimento da Nestlé no País e quatro vezes mais que o ritmo de expansão mundial da empresa.
Para atingir esse resultado, a Nestlé conta com 8 mil revendedoras, que vão de porta em porta no programa “Nestlé até você”.
Contra a obesidade
Críticos a empresas como a Nestlé afirmam que essas companhias estão mudando o estilo de vida população e promovendo a obesidade. Monteiro, o médico entrevistado, afirma que nossa cultura alimentar é rica em proteínas baseada no arroz com feijão. “Coisas saudáveis estão sendo substituídas pela Nestlé”, afirma.
Ele acrescenta que a indústria alimentícia faz lobby junto a médicos, nutricionistas e acadêmicos. Segundo ele, acadêmicos recebem bolsas para publicar artigos favoráveis a produtos industriais e ganham também viagens em classe executiva e hospedagem em hotéis de luxo. Monteiro conta que, quando ele era pediatra, recebeu da Nestlé leite em pó para ele distribuir aos pacientes.
A Nestlé afirmou ao “Financial Times” que orienta suas vendedoras a explicarem aos clientes que uma dieta saudável tem que ser diversificada e pode incluir, por exemplo, chocolate. Mas a vendedora citada na reportagem foi mais direta: “Eu sempre falo para as pessoas que os produtos são bons”.
Sílvio Guedes Crespo

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