quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Vigilância sanitária dos EUA diz ter encontrado chumbo em 400 batons


Quatrocentos dos batons mais populares entre aqueles vendidos nos Estados Unidos apresentaram vestígios de chumbo na sua composição ao serem testados recentemente pelo governo americano, confirmando resultados semelhantes de análises anteriores, embora numa escala muito mais ampla e em níveis mais elevados do que os observados anteriormente.
Cinco batons da L'Oreal e da Maybelline, subsidiárias da L'Oreal americana, figuraram entre as 10 marcas mais contaminadas, de acordo com a análise feita pela agência de vigilância sanitária dos EUA (Food and Drug Administration, ou FDA). Dois batons da Cover Girl e dois da NARS também estiveram na lista dos 10 piores batons, bem como um produto da Stargazer.

O resultado exacerba uma divergência entre a FDA e a Campanha por Cosméticos Seguros, um grupo formado por consumidoras que há anos pressiona o governo a estabelecer limites para o nível de chumbo encontrado nos batons. A FDA resistiu, insistindo que os níveis de chumbo detectados em duas rodadas de testes feitos pela agência, incluindo a mais recente, não representam riscos à segurança. Mas o grupo de consumidoras diz que a FDA não tem base científica para fazer tal afirmação.

Os relatos mencionando a presença de chumbo nos batons começaram nos anos 90, quando os resultados de testes feitos num laboratório comercial sugeriram certa preocupação. A Campanha por Cosméticos Seguros testou 33 batons vermelhos em 2007 e descobriu que dois terços deles continham chumbo - e um terço destes excedia o limite estabelecido pela FDA para a presença de chumbo em doces. A FDA realizou então seus próprios testes envolvendo 20 batons em 2008 e 400 batons na análise mais recente, encontrando níveis detectados de chumbo em todos os produtos testados.

Mas a FDA, que publicou na rede o resultado de seus testes em dezembro, disse que a comparação entre batons e doces não é justa. "Do ponto de vista científico, não é válido comparar o risco que a presença de chumbo nos doces, um produto destinado à ingestão, representa para o consumidor ao risco associado a níveis de chumbo nos batons, um produto destinado ao uso tópico que é eventualmente ingerido em quantidades muito inferiores do que os doces", afirmou a FDA em comentários publicados na rede.

O Conselho dos Produtos de Cuidado Pessoal, grupo que representa a indústria dos cosméticos, concordou com a interpretação da FDA. Halyna Breslawec, principal cientista do conselho, disse que seu grupo tinha pedido à agência que estabelecesse um limite para a quantidade de chumbo permitida nos cosméticos. A estimativa consensual para este consenso - 10 partes por milhão, de acordo com Halyna - é mais alto do que os níveis detectados nas duas rodadas de testes promovidos pela FDA e segue os parâmetros de propostas apresentadas no Canadá e na Alemanha.

Halyna disse que o chumbo não é acrescentado intencionalmente aos batons nem a nenhum outro cosmético, mas que muitos corantes adicionais aprovados pela FDA são feitos a partir de minerais e, portanto, contêm traços do chumbo que é naturalmente encontrado no solo, na água e no ar.

Mas o grande problema está em determinar quais seriam os níveis verdadeiramente seguros para a presença do chumbo nos cosméticos. A mais recente análise da FDA encontrou o nível mais alto de chumbo - 7,19 partes por milhão - no batom Pink Petal da série Color Sensational, da Maybelline. Mas a concentração média de chumbo nos 400 batons testados foi de 1,11 partes por milhão, algo bem próximo da média obtida na primeira pesquisa do tipo, feita em 2008 com cerca de duas dúzias de batons.

A FDA contratou um laboratório particular para a realização dos testes. A agência escolheu os batons com base na fatia de mercado conquistada por cada marca, apesar de ter incluído também alguns produtos voltados para nichos de mercado.

"Não consideramos os níveis de chumbo encontrados nos batons preocupantes para a segurança", disse a FDA no seu site. "Os níveis de chumbo detectados estão dentro dos limites recomendados por outras autoridades de saúde para a presença de chumbo nos cosméticos."

A Campanha por Cosméticos Seguros interpreta os resultados de maneira diferente. O chumbo encontrado no Pink Petal, da Maybelline, corresponde a mais do que o dobro dos níveis encontrados no relatório anterior da FDA e a mais de 275 vezes o nível encontrado na marca menos contaminada dentre as testadas recentemente, disse o grupo numa carta enviada este mês à agência. A marca menos contaminada, Wet & Wild Mega Mixers Lip Balm,, era também a mais barata, "demonstrando que o preço do produto não é um fator indicativo da adoção de práticas adequadas na sua manufatura", disse o grupo.

Eles citaram pesquisas federais que haviam concluído que não existe nível seguro de exposição ao chumbo para crianças e sublinharam a necessidade de proteger crianças e mulheres grávidas da exposição ao chumbo.
"O chumbo se acumula no corpo com o tempo, e a aplicação frequente e diária de batons que contenham chumbo pode representar a exposição a níveis significativos da substância", disse Mark Mitchell, copresidente da Força Tarefa de Saúde Ambiental da Associação Nacional de Medicina, no pronunciamento do grupo.

A Califórnia, pioneira em se tratando da regulação do chumbo, tem lidado com o problema. Em 2008, depois que surgiram os primeiros relatos da presença de chumbo nos batons, o gabinete do procurador geral do estado examinou se as empresas de cosméticos estariam infringindo leis californianas que exigiam das companhias que fizessem alertas compatíveis se estivessem expondo conscientemente os consumidores a elementos químicos que provocam câncer ou disfunções reprodutivas.

Com base nos dados públicos, o estado concluiu que a concentração de chumbo nos batons era baixa demais para representar uma infração desta lei. De fato, o dever de alertar os consumidores só seria obrigatório quando a concentração de chumbo atingisse 5 partes por milhão, disse o estado.
No estudo da FDA, a grande maioria dos batons ficou abaixo deste limiar. Mas dois deles o ultrapassaram: o Pink Petal, da Maybelline, e o Volcanic, da série Colour Riche da L'Oreal. O gabinete do procurador geral da Califórnia ainda não adotou medidas contra estes produtos.

Estadão

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