Um exame que pode ajudar no tratamento de pacientes com a síndrome da apneia obstrutiva do sono foi liberado para uso comercial em hospitais. Até agora, a técnica só era usada de forma experimental no País. Com ela, é possível visualizar as vias respiratórias em condições que simulam o sono normal e localizar a obstrução da passagem de ar. Isso pode ajudar a evitar cirurgias desnecessárias.
Filipe Araujo/AE
Eficácia. Paciente se submete a técnica para detectar apneia do sono no Hospital Samaritano
O Hospital Samaritano é o primeiro a oferecer a sonoendoscopia, que é feita com a colocação de um aparelho flexível de fibra ótica no nariz do paciente. O exame dura apenas 15 minutos, mas deve ser feito no centro cirúrgico, com acompanhamento de um anestesista. A sedação é feita com uma substância chamada propofol. O paciente recobra a consciência assim que o anestésico é suspenso.
A técnica usada no Samaritano foi desenvolvida pelo médico Fábio Rabelo em sua tese de doutorado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP). "Conseguimos encontrar a dose de sedativo capaz de simular as condições exatas do sono normal", explica. A sedação geralmente feita para um exame de endoscopia, diz Rabelo, induz a um sono muito mais profundo que o natural, o que poderia levar a resultados falsos.
O otorrinolaringologista Eric Thuler explica que a obstrução que causa a apneia pode ocorrer em diversos lugares das vias respiratórias, como a amídala, o palato mole, a base da língua e a epiglote. Cada situação requer um tratamento específico. "A cirurgia, por exemplo, só vai trazer bom resultado quando o estreitamento ocorrer na região da amídala. Com a realização da sonoendoscopia, temos visto que em mais de 40% dos pacientes o estreitamento ocorre em outros lugares", diz.
Precisão. Esse foi o caso do administrador de empresas Robério Peixinho, que em junho de 2010 descobriu ser portador da síndrome após realizar a polissonografia. Exames adicionais mostraram que a região da amídala estava aumentada, então, em setembro, Peixinho foi submetido a uma cirurgia para retirar a amídala e esticar o palato. Não obteve melhora.
Após realizar a sonoendoscopia, descobriu que o estreitamento ocorria na base da língua e passou a usar um aparelho oral. Parou de roncar.
Thuler explica que os exames normalmente usados para complementar o diagnóstico da apneia, como a ressonância magnética ou a tomografia, são feitos com o paciente acordado, o que não permite saber com precisão o que ocorre no sono. Ele ressalta, porém, que a sonoendoscopia não substitui a polissonografia. "É complementar."
Uma equipe do Incor também está desenvolvendo técnica semelhante, mas com outro sedativo: o maleato de midazolam (Dormonid). Segundo o pneumologista Geraldo Lorenzi Filho, a vantagem é que esse anestésico dispensaria o centro cirúrgico e o anestesista, tornando o procedimento mais barato. "Ainda são necessários mais estudos para saber se o exame realmente consegue prever se a cirurgia vai ter sucesso ou não", avalia.
PARA ENTENDER
Problema afeta cerca de 30% da população
A apneia é um distúrbio do sono caracterizado pela suspensão da respiração por pelo menos dez segundos, mais de cinco vezes por hora. Na maior parte das vezes, essas paradas respiratórias não são suficientes para despertar a pessoa, mas impedem que ela entre em sono profundo. Isso pode levar a problemas como sonolência diurna, hipertensão, diabete e enfarte, se não houver tratamento adequado.
Estudos apontam que cerca de 30% da população da cidade de São Paulo sofre com o problema. Entre os sintomas da síndrome estão: desconforto respiratório associado ou não ao ronco, sonolência diurna, sono não reparador, engasgos e episódios de despertar súbito com falta de ar.
O ronco, porém, pode ter outras causas, como aumento de secreções nasais, desvio de septo, rinites, sinusites, pólipos nasais, adenoides e alterações nos ossos da face.
Karina Toledo - O Estado de S.Paulo
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