segunda-feira, 4 de abril de 2011

Hospital das Clínicas implanta serviço odontológico de rotina nas nove UTIs


Há pouco mais de seis meses, pacientes internados nos 115 leitos da nove UTIs do Instituto Central do Hospital das Clínicas são visitados diariamente por dentistas que têm como objetivo identificar e tratar possíveis focos de infecção na boca dos doentes.
Evelson de Freitas/AE
Evelson de Freitas/AE
Cuidado. A dentista Ciliana Rossato, da equipe do Instituto Central, atende paciente na UTI
A boca é uma das portas de entrada para infecções, principalmente a respiratória. Se não estiver limpa, facilita a proliferação das bactérias. Se não tratadas, elas podem comprometer o quadro clínico do paciente, especialmente dos entubados, além de atrasar o processo de alta.
Antes, o serviço odontológico na UTI era acionado apenas sob demanda médica. Além disso, já fazia parte da rotina fazer o tratamento dentário de pacientes eletivos - antes das cirurgias agendadas - para evitar infecções.
Agora, um protocolo de higienização foi criado: as enfermeiras fazem a limpeza dos dentes - o que inclui escovação e raspagem da língua - e os dentistas procuram focos de infecção.
Se um paciente está com placa bacteriana, por exemplo, a equipe faz a raspagem e a higienização na hora. Se o dente estiver inflamado a ponto de comprometer o tratamento, ele é extraído - há duas semanas o dente de um paciente com tétano foi extraído porque ele poderia ser a porta de entrada da infecção.
"O objetivo da odontologia hospitalar é tratar focos agudos e oportunistas, como pus na gengiva, placa bacteriana, periodontite. Não vamos restaurar cárie, porque é infecção crônica, não aguda", diz Maria Paula Siqueira de Melo Peres, diretora da Divisão de Odontologia do hospital.
E não é apenas na UTI do HC que os dentistas estão presentes diariamente. Há oito anos o serviço foi implementado na Santa Casa de Barretos por Teresa Márcia Morais, presidente do Departamento de Odontologia da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib).
"Observamos menos casos de infecção, menos uso de medicamentos e alta mais rápido. É uma economia e não custo a mais." Tereza conta que um dos casos mais marcantes foi o de um paciente internado havia 37 dias por causa de uma infecção no coração. O caso não melhorava e o paciente foi para a UTI. Os dentistas concluíram que o foco da infecção era a boca. "Ele tinha uma doença periodontal grave. Removemos os focos e extraímos dois dentes. Ele ficou uma semana na UTI e hoje está bem."
Demanda. A implantação da visita dos dentistas na UTI surgiu porque cerca de 80% dos pacientes são vítimas de traumas ou de problemas urgentes - não são aqueles que já fizeram o tratamento dentário previamente. "Qualquer pessoa pode ter infecção. A colonização da boca por bactérias acontece em 48 horas", diz a dentista Juliana Bertoldi Franco, assistente da equipe.
Emil Adib Razuk, presidente do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo, apoia a medida. "De 20% a 50% dos internados adquirem pneumonia hospitalar." Para ele, trata-se de uma segurança a mais. "O custo-benefício vale a pena." 


Fonte: Fernanda Bassette - O Estado de S.Paulo

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