No futuro, descoberta pode oferecer alternativas diagnósticas ou terapêuticas para diminuir o risco de gravidez mais curta que o desejável. Pesquisadores buscaram DNA que evoluiu de forma acelerada nos últimos anos para diminuir o tempo de gestação
Pesquisadores americanos e escandinavos identificaram um gene relacionado ao nascimento prematuro de bebês. A descoberta pode levar a futuros tratamentos para um problema que afeta uma em cada oito gestações, colocando em risco a vida de milhões de crianças e mulheres em todo o mundo. Até agora, não se conhecia nenhum fator genético ligado ao parto prematuro.
Os cientistas partiram de uma premissa. A linhagem humana teve pouco tempo para se adaptar a processos evolutivos que podem dificultar significativamente o trabalho de parto: o aumento do crânio para acomodar um cérebro maior e o estreitamento da bacia pélvica para facilitar andar sobre dois pés.
A pressão da seleção natural fez com que o tempo de gestação diminuísse rapidamente em comparação com outros mamíferos e, até mesmo, com outros primatas. Um feto menor e mais jovem gera menos complicações ao nascer, pois há menor desproporção entre sua cabeça e o pélvis da mãe.
Partindo desta convicção, os cientistas procuraram genes que passaram por um processo de evolução acelerada na espécie humana, em comparação com outros animais, especialmente primatas.
Identificaram 150 bons candidatos. Compararam então as diferenças desses genes em duas populações na Finlândia: 165 mulheres que tiveram parto prematuro e 163 que deram à luz no tempo esperado. Definiu-se prematuridade como uma gestação menor do que 37 semanas.
Identificaram assim variações no gene responsável pela produção do receptor do hormônio folículo-estimulante (FSHR, na sigla em inglês). Depois, confirmaram a presença das mesmas variações associadas à prematuridade em mulheres africanas que deram à luz antes do tempo.
O estudo foi publicado na revista PLoS Genetics (www.plosgenetics.org).
Esperança. Louis Muglia, da Faculdade de Medicina da Universidade Vanderbilt, nos EUA, disse ao Estado que acredita na futura utilização de técnicas genéticas para prever, tratar e prevenir partos prematuros. "Fatores genéticos podem indicar quais mulheres apresentam um risco mais alto de dar à luz antes do tempo", aponta Muglia.
Seu grupo pretende identificar outros genes que influenciam o tempo de gestação, além de desvendar os processos bioquímicos que levam o FSHR a influenciar o trabalho de parto.
Roberto Bittar, pesquisador do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP, recorda que já se suspeitava o envolvimento de fatores genéticos em partos prematuros.
"Outros estudos já mostraram que, em algumas famílias, a prevalência do problema é maior do que em outras", aponta. Mas sublinha que, além dos genes, o comportamento e o estado de saúde da mãe também contribuem para o parto antes do termo.
Fatores tão diferentes quanto infecções por doenças sexualmente transmissíveis, consumo de determinados medicamentos, pressão alta, diabete, obesidade e subnutrição podem aumentar muito o risco de parto prematuro. "O ideal é eliminar esses fatores antes da gravidez", afirma Bittar.
Alexandre Gonçalves - O Estado de S.Paulo
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